É possível que em 2025 hajam dois campeonatos brasileiros. Ou melhor, duas Ligas de Futebol Profissional disputadas, simultaneamente, em território tupiniquim. Uma com 18 integrantes incluindo Corinthians, Grêmio, Flamengo, Bahia e Mirassol. E outra com 26, tais como, Fluminense, Internacional, CSA, Sport e operário. A primeira tem sido chamada de LIBRA (Liga do Futebol Brasileiro), a segunda de LFF (Liga Forte Futebol).
Esse cenário futuro é tão desalentador quanto ridículo! Pois faltarão cores em nosso futebol. Não teríamos mais, a nível de disputa pela taça nacional, um Botafogo X Fluminense, um Grêmio X Inter, um Atlético X Cruzeiro. E para desmiolar ainda mais o torcedor, teríamos dois campeões nacionais a cada ano.
O desentendimento entre os dois grupos gira em torno, entre outras coisas, da divisão das fatias do bolo financeiro, sobretudo com relação às cotas de TV. A LFF propõe um teto de 3,5 vezes a diferença entre quem recebe mais e menos. Já a LIBRA propõe uma diferença de 3,9. A primeira argumenta que quanto menor a disparidade econômica, maior a competitividade e a valorização do campeonato enquanto produto. Por sua vez, a LIBRA rebate que o modelo faria despencar as receitas de clubes que ganham muito mais por terem maior visibilidade, audiência e consumidores.
Ou seja, para dominar a bola e fazê-la rolar redondinha vai dar trabalho! Porque o time é cheio de vaidades! E elas não se restringem a Flamengo e Corinthians, os maiores arrecadadores com cotas de TV e que não querem perder seus gordos repasses de forma alguma.
Atrás da LFF está o Serengeti Asset Management, dos Estados Unidos, e seus assessores financeiros XP Investimentos, Life Capital Partners, Monteiro de Castro, Setoguti Advogados, Álvarez & Marsal e LiveMode. Já a camisa da LIBRA é vestida pelo fundo investidor Mubadala Capital, dos Emirados Árabes e assessorado pelo Banco BTG Pactual e Codajas Sports Kapital. Eu poderia agora subir a hashtag não é só futebol! Pois não é mesmo meus amigos e amigas!
Fundos de investimentos e grandes bancos têm poder para aliciar clubes a participarem do seu grupo no futebol. Só sendo muito ingênuo para acreditar que contratos e negociatas nesse esporte tão rentável tem a lisura e a transparência do que é divulgado em arquivos, documentos e fotos. Não é! Há muita sujeira entre os gomos da grande bola do futebol!
Por isso é necessário abrir os olhos para o que acontece. Pensar, criticar e divulgar o que está acontecendo a fim de pressionar por mudanças benéficas. Mas, afinal, quais são elas?
O futebol brasileiro precisa urgentemente de uma Liga! E os motivos são vários: fortalecer o esporte enquanto produto; organizar o futebol dos clubes numa nova perspectiva, independente das garras da CBF; ter um campeonato com melhor nível de competividade.
Vejamos a Liga inglesa. Nela as divisões econômicas eliminaram alguns abismos e deu certo. 50% dos valores referentes as cotas de TV são divididos igualitariamente entre todos os clubes. Como resultado, o campeonato se transformou no mais atraente e valorizado da Europa.
O exemplo é bom. Ainda assim, não sejamos românticos. Estamos falando sobre o que há de melhor no futebol nesse século XX. Lá, há apenas 40 anos, as maiores notícias eram da violência hooligan. Hoje o verde dos gramados brilha tão longe quanto a potente Libra Esterlina.
Nossa Liga ainda não começou porque tem muita coisa em jogo. E nós sabemos que o jogo começa bem antes da bola rolar.
Rafael Alvarenga
Cabo Frio, 03 de maio de 2023
(publicado em 05-05-2023 na Folha dos Lagos)
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