Arenas: máquinas de fazer dinheiro
- Rafael Alvarenga
- há 7 dias
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Em Filosofia do dinheiro, Georg Simmel diz que as ligações pessoais e afetivas entre pessoas e coisas, presente na Idade Medieval, acabou. Na modernidade o dinheiro mede essas relações. Quem tem grana compra o que precisa, sem nem querer saber - tampouco precisar - quem fará o serviço, o produto ou quem era o antigo dono. Com o dinheiro as relações ficaram impessoais.
No futebol, os estádios eram uma espécie de casa para o torcedor. E, como tal, a enorme estrutura de concreto armado tinha lá sua função afetiva de hospedar, semanalmente, o time do coração. Embora o torcedor pagasse para entrar na sua casa, mantinha com ela uma relação muito pessoal. O estádio era o lar de todos, sobretudo porque os preços eram baratos.
A mudança efetivada em alta velocidade no século XXI ordenou que os estádios se transmutassem em Arenas. Daí resultaram novas fronteiras éticas. O lugar deixou de priorizar o jogo. Agora prioriza o lucro que chega desde o aluguel para grandes shows e eventos, até os ingressos caros cobrados.
Agora, as Arenas são lugares de poucos. O que resulta que esses gigantes de concreto tiveram suas relações afetivas enfraquecidas com quem torce. Houve perda de ligação pessoal entre as pessoas e esses espaços. E isso ocorreu na medida em que o dinheiro passou a mediar de forma impessoal as relações entre as pessoas e o espaço Arena.
Os gramados de plástico são efeito das mudanças nessa relação. O sintético não precisa de sol, de chuva e aguenta um palco inteiro por cima.
A nós, cabe entender que aceitamos mansamente tal mudança.
Rafael Alvarenga
Texto publicado na Folha dos Lagos, Cabo Frio, em 03 de outubro de 2025
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