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Foto do escritorRafael Alvarenga

O viralatismo nosso de todo dia


Nelson Rodrigues entrou de sola! Mandou uma tesoura voadora de dar inveja a um Júnior Baiano no auge de suas mais afiadas decolagens. O cronista havia parado o jogo para dizer que só venceríamos um campeonato mundial de futebol quando abandonássemos o nosso viralatismo.

Pois bem, nosso viralatismo não é comportamento superado. Está dentro e fora de campo. E pior, anda correndo nas veias do futebol jogado no Brasil.

Vejamos primeiro a questão dos técnicos. A meu ver Fernando Diniz é um dos melhores do Brasil. E vinha sendo considerado assim, até perder o primeiro jogo da decisão do Campeonato Carioca para o Flamengo, por 2X0. Perdeu porque, mais uma vez em sua carreira, enfrentou um rival cujo elenco é muito superior.

Diniz é um dos poucos que tem a coragem de querer vencer e jogar bonito. Corre riscos por isso. O que me leva a apostar que se ele treinasse um dos três melhores elencos do Brasil, muitos torcedores de outras equipes parariam para ver o time do Diniz jogar. Porque futebol encanta. Até mesmo quando o brilho é do rival imbatível e elegante. Como o Flamengo de Jorge Jesus que levava todos para a frente da televisão.

Mas os melhores elencos do Brasil foram buscar estrangeiros! Abel Ferreira, Vitor Pereira e Eduardo Coudet. Fizeram o que antes de chegar ao Brasil? Campanhas louváveis que precisam de ressalvas. Coudet foi uma vez campeão argentino com o Racing. Abel Ferreira fez bom trabalho de uma temporada no Braga de Portugal. Vitor Pereira foi bicampeão português com o Porto.

Cuca, Rogério Ceni, Carille e Tite também já foram campeões. Contudo de um campeonato muito mais difícil que o português. Salvo o Campeonato Inglês, o Brasileirão é um dos mais equilibrados do mundo. Não há por aqui um time tenha conquistado e mantido hegemonia no quesito levantamento de taça.

Voltando a questão dos técnicos, há aqui aqueles que ainda não desfilaram em carro aberto após uma conquista de título, mas que merecem atenção: Maurício Barbiere, Lisca, Tiago Nunes, Umberto Louzer. Devemos incluir nessa lista o Fernando Diniz.

Porque eles ainda não foram campeões? Talvez porque não estão em Portugal treinando o Porto, que, diga-se de passagem, tem um único rival no campeonato nacional, o Benfica. O Sporting e o Braga às vezes se aproximam, mas como têm pouca força, raramente conseguem ainda dar o bote e roubar a taça.

Rogério Ceni, por exemplo, é tricampeão estadual (Fortaleza duas vezes e Flamengo), bicampeão brasileiro (Fortaleza série B e Flamengo série A), Copa do Nordeste e Super Copa do Brasil. Se ele continuasse no Flamengo ou estivesse no comando de Atlético-MG ou Palmeiras, teria um currículo ainda maior.

É viralatismo, Nelson Rodrigues tinha razão. Ou vocês acham que Coudet, Vitor Pereira e Abel Ferreira são estudiosos e compenetrados em entender o esporte e Rogério Ceni, Fernando Diniz e Maurício Barbiere não?

O que está em jogo é que esses estrangeiros chegaram aqui para treinar os melhores elencos da América Latina. Portanto, suas chances de vencerem aumentam diante dos técnicos brasileiros que assumem elencos limitados, tanto na qualidade técnica de cada jogador, quanto na quantidade de peças disponíveis.

É o viralatismo nosso de todo dia, senhoras e senhores! Bem lustrado e polido para chamar bastante a atenção.


Cabo Frio, 04 de abril de 2023

(Publicado na Folha dos Lagos em 07/04/2023)

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