É tempo de reta final nos campeonatos estaduais pelo Brasil. E o que vemos, além dos grandes clássicos, é o retorno da discussão sobre a manutenção dessas competições tão particulares do nosso futebol. Afinal, os estaduais devem acabar?
Sou favorável a permanência deles. Em nenhum outro canto do mundo existem competições desse tipo. Sem dúvida, nos anos 60, ser campeão estadual era um triunfo muito glorioso. Os louros dessa conquista alçavam os clubes a degraus de importância nas competições nacionais. Os campeões paraense, mato-grossense, catarinense, não importava o estado. Quem trazia na bagagem um título estadual devia ser respeitado.
Hoje esse cenário mudou. Os estaduais não são mais uma boa balança para medir o peso do de uma equipe. Servem para distribuir vagas na série D do Brasileirão e na Copa do Brasil. Então, porque mantê-los?
Eles representam uma forte tradição do futebol brasileiro. São disputas que oferecem oportunidade a diversos clubes de se manterem vivos. Tanto por terem a chance de competir. Quanto por terem a ocasião de revelar um jogador e negociar seu passe. Caso esse em que o clube, de pequeno investimento, pode garantir até um ano de despesas pagas.
Sem os estaduais, e suas 4 divisões (tomando aqui o exemplo do futebol carioca), muitos clubes seriam hoje apenas páginas na wikipedia. Goytacaz, Cabofriense, Araruama, Arraial do Cabo, Búzios, Bonsucesso, São Cristóvão, Friburguense, Olaria, Resende, Portuguesa, Paduano, Mesquita, Maricá, Macaé. São alguns dos muitos exemplos de clubes onde a grama não mais nasceria caso fosse decretado o fim do campeonato carioca de futebol.
Há também o argumento econômico para a existência dos estaduais em suas tantas divisões. As competições proporcionam, em dias de jogo, alguma atividade comercial. São pipoqueiros, vendedores de água, cerveja, refrigerante, cachorro-quente, salgados. Além é claro das pessoas que trabalham no clube. Com atividades diversas, sejam elas ligadas ao próprio time, à manutenção do estádio ou administração da entidade. Ou seja, à existência desses clubes está atrelada a uma atividade econômica, direta e indireta.
Aos poucos eu assisto a mudança no torcedor brasileiro. Quando as competições continentais eram como gols raros, nós olhávamos mais para os estaduais. Agora que os brasileiros dominam a Copa Libertadores da América, parece que a conquista do estadual é um prêmio “café-com-leite”.
Os estaduais representam uma tradição que precisa ser mantida. Eles, por si sós, não salvarão nosso futebol. No entanto, nos mostram um problema que reluz em diversos aspectos da nossa cultura: como manter a força de uma tradição do passado e absorver os benefícios das inovações do hoje?
Tenho uma resposta ousada e aberta ao debate: a criação de Ligas. Geridas pelos clubes. Vendidas a investidores, públicos e privados. Ligas que se aproveitem das oportunidades das transmissões via internet. Sem deixar de lado a oferta de um estádio, pequeno, porém convidativo. Ligas que possam gerir a si mesmas, onde os clubes sejam os jogadores num conselho deliberativo.
Estou querendo demais? Leitores e leitoras, ano passado a FERJ sequer pagou premiação em dinheiro para o Fluminense, campeão da 1ª Divisão do estadual. Sabem o que o campeão da 3ª divisão ganhou? Despesas que até hoje não conseguiu pagar.
Rafael Alvarenga
Cabo frio, 08 de março de 2023
(Publicado na Folha dos Lagos, Cabo Frio-RJ, e, 10/03/2023)
Acho que os Estaduais foram perdendo importância com o passar do tempo por causa de vários motivos. Aponto um: o aumento gradativo de vagas na Copa do Brasil. Nas primeiras edições dessa competição nacional, só os campeões estaduais (e pouquíssimos vices) participavam. Isso valorizava a disputa do campeonato estadual. Com o aumento de vagas, sobretudo via "Ranking da CBF", vários clubes passaram a ter presença garantida na Copa do Brasil, independentemente do desempenho no Estadual. Diogo Tadeu Silveira instagram.com/diogotadeusilveira