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Foto do escritorRafael Alvarenga

Tela, telinha, telão


Os serviços de streaming de músicas e, principalmente, os podcasts nos puseram numa espécie de túnel do tempo. Voltamos a ouvir! E como na longa era do rádio que atravessou gerações, passamos a ficar atraídos por um autofalante. Ainda que hoje ele tenha o tamanho de uma jujuba colorida e seja carinhosamente chamado de fone.

Todo mundo tem o seu fone, seu podcast preferido, e nada impede de ouvi-lo! Porque até a lavagem da louça deixou de ser obstáculo. Estamos quase dando a vitória do jogo para os podcasts futebolescos, mas como a partida só acaba quando termina, é melhor esperar a bola cruzar a área mais uma vez.

Se os podcasts sobre futebol invadiram nossas vidas e rechearam até nossas tarefas domésticas, no jogo praticado no campo aconteceu o contrário. O futebol tem a força de atravessar nossos extratos sociais em todas as direções. A mesma partida de futebol é um evento capaz de atrair a atenção de pessoas muitas diferentes. São expectadores desse espetáculo, que, no entanto, não seriam atraídos, ao mesmo tempo, por nenhuma outra atividade ou produção. Todos esses, dos trabalhadores mais simples, aos mais privilegiados, procuram hoje uma forma de assistir aos jogos do seu time com áudio e vídeo.

Os canais de rádios ainda existem. São marcantes, às vezes caricatos. Conservam figuras exóticas no imaginário popular. E ainda têm audiência. Mas eles também já oferecem aos fieis ouvintes uma outra opção de roupa. Podemos assistir à narração, via youtube, por exemplo. Nesses casos, o áudio vibrante, o pequeno silêncio emocionante ou o grito de fazer o coração vir à boca ainda estão lá. A novidade são os olhos do ouvinte. Fixos na figura do narrador sentado, segurando o microfone, anotando informações.

O que aconteceu foi que nos sujeitamos a ideia de que precisamos ver a qualquer custo.

Vemos os jogos pelo celular com tela quebrada. Vemos com delay. E tantas vezes algum vizinho já gritou gol enquanto em nossa tela o adversário ainda vai bater o escanteio. Será que o gol saiu em um contra-ataque veloz? Não. Descobrimos depois, ao perceber que o atraso na transmissão era enorme!

Há opções no youtube. Diversos sites com links para assistir ao vivo. Senhas de assinantes divididas entre amigos. E assim, em celulares, tablets, computadores e TVs com seus sistemas de iptv as multidões compostas dos mais diversos tipos de brasileiros e brasileiras, assistem ao jogo de futebol do seu time preferido. Na lanchonete chinesa que nunca fecha; no ponto onde o ônibus demora uma eternidade; na sala cuja aula termina somente próximo às 22h; no templo ou na igreja onde a liturgia é feita sempre do mesmo jeito, para terminar sempre na mesma hora. Todos procuram e acham uma tela para acompanhar os lances ao vivo!

É fácil eu me lembrar da metade dos anos 90. Era tão raro ter uma TV transmitindo um jogo de final de campeonato que ninguém saía procurando. Sem dúvida queríamos uma imagem também. Por isso, não perdíamos o programa esportivo da hora do almoço no dia seguinte. Outra opção, era comprar o jornal e olhar a fotografia. Mas aí já era o jogador comemorando o gol.

Parece que a gente sempre quer ver. A imagem nos põe de joelhos com grande facilidade. Ainda assim, fico satisfeito em saber que estamos ouvindo mais. Mesmo que seja o pré ou o pós jogo. Fone é o que não falta.


Rafael Alvarenga

Cabo Frio, 17 de maio de 2023


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