Minha vizinhança voltou a viver a Seleção brasileira como há tempo eu não presenciava. À altura do jantar, durante o jogo contra o Uruguai, pelas eliminatórias para a Copa do Mundo de 2026, houve quem gritasse alto comemorando os gols charruas. Já na manhã seguinte, outros reclamaram em tom de indignação sobre a péssima atuação brasileira no Estádio Centenário em Montevideo. E como parecia amargo esse café da manhã!
Houve um tempo em que jogos do Brasil não passavam despercebidos. Era assunto a substituir o calor dos dias quentes e o frio dos dias frios. No ontem da nossa História a camisa da Seleção foi usada por movimentos políticos que racharam o país. E assim, para um lado, torcer contra o futebol brasileiro, passou a ser traduzido como não compactuar com ideais antidemocráticos.
Agora, os problemas da camisa amarela, ao que parece, voltaram a girar entorno da CBF. Técnico interino, amistosos caça níqueis e o velho patriarcado de cabelo penteado dando as cartas. A seleção? Perdeu de 2 X 0 para um Uruguai compacto. Numa formação um tanto conservadora, porém eficiente e muito aguerrida. Um time mais raçudo que habilidoso.
Quanto ao Brasil, é claro que quem torce a favor ou contra, percebe a dificuldade dos técnicos de fazer os jogadores renderem na Seleção algo próximo do que rendem nos clubes. Vini Jr., Bruno Guimarães e Gabriel Jesus são alguns dos exemplos dos que se abrandam com a camisa amarela. Se o problema for entrosamento dificilmente será solucionado porque são jogadores que “Se encontram no avião” como disse Eduardo Galeano. Se o problema for o tempo necessário para o técnico implementar seu modelo de jogo, há outro impasse, afinal, Fernando Diniz foi admitido através de contrato temporário e daqui a pouco já entrará em aviso prévio.
Minha vizinhança noturna está feliz. Inclusive veste azul claro nessa manhã fria. Já a vizinhança matutina veste cinza. Sente-se ultrajada, pois se acostumou a ganhar quase sempre aqui pelo cone sul e aí toma dois de um vizinho que cabe dentro do Rio Grande do Sul!
De minha parte não vejo o fim do mundo. A vitória uruguaia mostra o incipiente trabalho do “El Loco” Bielsa no comando da Celeste Olímpica. O futebol uruguaio projeta e pratica sua renovação. Apresenta uma equipe cheia de jovens bons de bola. Piquerez, Rochet, Arrascaeta, De La Cruz, Bruno Méndez, Cannobio. É uma seleção sendo moldada para a próxima Copa América e do Mundo.
A derrota brasileira expõe a dificuldade política da CBF de mudar e mostrar projetos de futuro, dentro e fora dos campos. Os craques que venceram Copas se aposentaram. Os que perderam as mais recentes o torcedor já agradeceu pelos serviços prestados.
O que falta? Efetivar o Diniz e deixá-lo trabalhar. Porque a vaga em 2026 é certa!
Rafael Alvarenga
Cabo Frio, 18 de outubro de 2023
Publicado no jornal Folha dos Lagos em 20 de outubro de 2023
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